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Um dos maiores choques que tive após passar a atender, foi a quantidade de relatos de mulheres que haviam sofrido algum abuso na infância. Antes de iniciar meus atendimentos em psiquiatria, trabalhei muito com plantões de pronto socorro em clínica geral, ambulatório de clínica médica e até ortopedia (fiz 1 ano de residência médica em ortopedia antes de mudar de especialidade). Fato é que mesmo com esse contato intenso com os pacientes, somente com as consultas em psiquiatria tive a noção chocante desta estarrecedora realidade.

Durante a anamnese (entrevista para coleta da história do paciente), quando pergunto para as mulheres se já sofreram algum tipo de abuso, a quantidade de respostas afirmativas me faz ficar perplexo.

Quantas vidas marcadas, quantos traumas gerados pela violência sexual. As histórias geram revolta, indignação contra o agressor, sensação de injustiça, impotência, vergonha. Parou de me causar espanto o fato de que muitas vezes a vítima procura ajuda e conta para algum familiar que está sofrendo a violência, mas muitas vezes é orientada a ficar em silêncio ou é desacreditada.

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Os relatos se assemelham em relação ao perfil do agressor; alguém próximo, muitas vezes um familiar, alguém que tem livre trânsito na casa e acesso a criança, alguém com prestígio ou status. Muitas meninas convivem com o abusador por anos, sendo repetidamente submetidas a mais vil das agressões, tendo seus corpos violados e suas emoções destroçadas. As sequelas psíquicas repercutem na infância e ecoam na vida adulta.

Numa sociedade machista e misoginia, não é raro que a criança/mulher, vítima de violência sexual, sinta-se culpada ou de alguma forma responsável, por ter sofrido a agressão. Não são incomuns os absurdos; “mas ela estava com roupa curta”, “não devia andar sozinha naquela rua escura”, “foi ela que procurou”. Há meninas que, vítimas de abuso, reúnem coragem incrível e contam para a mãe o que está ocorrendo mas algumas mães não acreditam, ou preferem esconder o ocorrido para proteger a reputação do agressor.

Qual é meu objetivo em compartilhar algo tão chocante? Minha motivação é para que mais pessoas saibam que o estupro é real, ocorre muito mais do que se pensa e que, na maioria das vezes, o abusador é alguém próximo da criança. Minha intensão é inspirar cuidado. A intensão não é ser alarmista mas sim realista.

A infância de nossas meninas é preciosa e moldará as futuras mulheres, proteger a infância é fundamental, portanto, esteja atendo aos sinais de mudança de comportamento na criança que possam ser indicativos de que alguém possa estar se comportando inadequadamente em relação a ela. Revivecência (reviver o trauma/”sonhar acordado”/pesadelos), hipervigilância (atenção excessiva, medo), evitação (não querer frequentar certos locais ou pessoas), sintomas depressivos ou ansiosos, comportamento/vocabulário sexualizado incompatível com a idade.

 

Por: Dr Frederico Félix

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