Chegamos novamente num dos períodos do ano mais rico em simbolismos e significados. A despeito da religião ou cultura a qual pertençamos, o Natal traz atrelado a si, uma gama de sensações intensas, sendo a esperança, uma das mais marcantes.
Chegamos ao entardecer de um ano repleto de lutas e lutos. Milhares de famílias alijadas de membros amados vítimas da covid. Turbulências políticas e econômicas também não nos faltaram, alguns fatos trazem tristeza, entretanto, infelizmente, muitos não são surpresas.
Vivemos num país complexo e repleto de idiossincrasias, como gostamos de dizer popularmente, há eventos que são “jaboticabas”, ou seja, só acontecem no Brasil.
A despeito de todos os desafios colocados diante de nós, mais uma vez temos sobrevivido, demonstrando o poder inegável da resiliência de nosso povo que se recusa a jogar a toalha, contrariando as expectativas.
No final do ano é costume de muitos fazer um balanço, refletir sobre o que passou, realizou, ganhou, perdeu, metas atingidas ou malogradas. O ato de pensar a respeito de si mesmo avaliando seu “desempenho” ao final de mais um ano, no mais das vezes, desperta sentimentos e emoções poderosas, podendo ser gratificantes, desencorajadoras, mistas.
Importante instrumento para filtrar o turbilhão de êxitos ou derrotas que compuseram seu ano, é não se comparar aos vizinho. Evite avaliar se você teve sucesso ou fracassou baseando-se no carro novo de seu sobrinho, na namorada bonita que seu amigo conquistou enquanto você, tão lindo, permanece solteiro, na promoção de seu colega de trabalho, na irmã que viajou pra Disney pela terceira vez. Sua régua mais fidedigna, consiste em olhar para si mesmo há 1 ano atrás, e comparar com seu eu de hoje.
A verdadeira evolução não está balizada apenas por conquistas financeiras. Apesar de suprimidos por nossa sociedade de marketing e consumo, há muitos valores, na realidade os mais importantes, que não são mensurados pelo saldo de sua conta bancária ou por fotos nas redes sociais. Pode ser que apesar das lutas financeiras, você tenha se tornado uma pessoa mais paciente. Você pode ser um sobrevivente da covid que descobriu um novo e gratificante valor pela vida. Talvez você ainda viva o luto pelo falecimento de alguém querido mas ainda assim consegue oferecer carinho e consolo aos que estão ao seu redor. Pode ser uma mãe de família que se manteve firme no esforço de conduzir seu lar e criar filhos com amor. Acredito que este Natal possa ter uma conotação ainda mais interessante do ponto de vista de que, mais do que trocar presentes e encontrar os amados para repartir o pão, seja para os atentos, um encontro entre sobreviventes.
A batalha ainda não terminou, 2022 promete desafios e sacrifícios talvez maiores que 2021, contudo, se temos a oportunidade de nos congregarmos com aqueles que amamos, significa que nós, e eles, permanecemos vivos!
Dotados do dom supremo que possibilita novos amanhãs, aperfeiçoamentos, correções de rotas, celebração de vitórias, partilha de alegrias. Paira a pergunta; “Por que nós sobrevivemos?” Certamente não por sermos melhores do que os que pereceram, mais aptos, especiais, escolhidos por um poder superior.
Permanecemos vivos por razões que escapam ao parco conhecimento de nossas mentes. Talvez resposta mais acalentadora possa ser encontrada no campo da fé, mas isso é particular a cada indivíduo.
Fato é que aqui estamos, para mais um Natal. Importa sobretudo ser gentil, principalmente consigo mesmo. Respeite e valorize as batalhas que você lutou para chegar vivo até aqui, seja grato e desfrute a companhia daqueles que você ama, e como você, também permanecem vivos. Tudo bem se as coisas não saíram exatamente como o planejado no início do ano, para a maioria das pessoas não saiu. O que conta é o sopro de vida que flui em você, a chama que não se apagou mesmo na tempestade. Esse sopro, essa chama, são tudo que é necessário para que prossiga em sua jornada de evolução.
Com os melhores votos de um feliz natal e um ano novo repleto de saúde, disposição, amor, garra e prosperidade, deixo a todos um carinhoso abraço.
Por: Dr Frederico Félix