Em tempos anômalos e marcados por crises, vemos crescer entre a população o consumo de substâncias que sejam capazes de, em alguma medida, trazerem alguma forma de alento, conforto ou distanciamento da realidade.
As drogas, ou substâncias psicoativas, acompanham a evolução humana desde nosso surgimento sobre a terra. No antigo testamento temos o relato de que Noé, ao desembarcar da arca após o dilúvio, vez vinho com uvas e se embriagou tendo sua nudez vista por um de seus filhos que assim foi amaldiçoado. Seja com emprego medicinal, recreativo ou em forma de substâncias de abuso, esses compostos químicos permeiam nossa história e, certamente, não deixarão de existir enquanto houver humanidade. Aliás, inclusive entre outras espécies são observados comportamentos onde substâncias são utilizadas com a finalidade de alterar estados de “consciência” (ex: golfinhos já foram observados “usando” baiacus como fonte de substância psicoativa com finalidade aparentemente recreativa). Períodos que envolvem guerras, catástrofes naturais, pandemias, crises econômicas, historicamente são marcados pelo aumento no consumo de álcool e outras drogas. Ao final da Guerra do Vietnã (1955 – 1975) os EUA tiveram que enfrentar a dura realidade de que muitos de seus veteranos de combate regressaram para casa carregando, além dos traumas da guerra, o vício em heroína entre outros.
Como caracterizar a dependência/vício? Apesar do estigma e todo preconceito que envolve o tema, a dependência química atualmente é classificada como doença e uma questão de saúde pública. Dependência de qualquer substância é caracterizada pela necessidade de consumo da mesma, tempo despendido com pensamentos/ações/recursos para obter a substância, efeitos desencadeados sob efeito da substância, efeitos (humor/comportamento/sintomas) desencadeados pela falta da substância (abstinência), prejuízos (físicos/financeiros/sociais/afetivos) decorrentes da dependência.
Entre as drogas de abuso, o álcool e o tabaco são as duas mais utilizadas pela humanidade. O fato de serem lícitas na maioria das culturas ao redor do globo, facilita o acesso a esses meios. Em muitas ocasiões o consumo se inicia de forma inocente e/ou recreativa, no entanto, é desnecessário dizer o poder viciante que tais substâncias apresentam sobre o sistema nervoso da maioria dos mamíferos.
O mecanismo de ação das drogas atua ativando centros de prazer no sistema nervoso central e, muitas vezes, inibindo receptores para dor. Além desse efeito, podem ainda agir de maneira a alterar estado de consciência, modificar percepção da realidade de forma auditiva/tátil/visual/gustativa. Em certa medida trazem sensação de prazer, entretanto, com a persistência do uso, a tendência é de que a cada vez o prazer diminua e gradativamente aumentem os efeitos deletérios. Sabidamente algumas drogas tem maior potencial viciante e deletério do que outras, mas é impossível afirmar com exatidão quem vai usar e se tornar dependente.
Em tempos de pandemia temos notado um aumento expressivo no consumo de álcool e outras drogas sendo utilizados como “medicações” para aliviar o estresse gerado pela pandemia, embalar as atividades realizadas em ambiente domiciliar, espantar o tédio, amenizar a dor. Fica o alerta para a cautela ao se valer dessas substâncias pois o risco da dependência existe e, atrelado a ele, todos os prejuízos bem conhecidos que acometem a população adita.
Em tempo, é necessário ficar claro que preconceito, estigmatização e falta de empatia, apenas afastam o dependente do caminho do tratamento e recuperação. Faz-se necessária abordagem terapêutica e acolhimento não só da saúde pública, mas também de toda sociedade, afim de encararmos com efetividade as questões que envolvem a dependência de álcool e outras drogas.
Por: Dr Frederico Félix
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