Procedimento visa melhorar a qualidade de vida do paciente e pode ser feita de forma definitiva ou não
A cantora Preta Gil declarou no início do mês que precisou realizar uma amputação do reto por conta do tratamento contra o seu câncer de intestino, ou câncer colorretal, diagnosticado em 2023. Ela disse ter realizado o procedimento ainda em 2023. O reto é a parte final do intestino grosso e atua na formação e eliminação das fezes. Mas o que é a amputação do reto e em que casos ela é necessária?
Segundo a proctologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Maristela Almeida, o termo amputação do reto inclui geralmente a retirada dos esfíncteres anais. Ela explica que, ao retirar essa musculatura esfincteriana, o paciente obrigatoriamente irá usar um estoma (orifício que é uma espécie de bolsa que permite o esvaziamento do intestino) pelo resto da vida.
“No caso da Preta, seria mais correto dizer que ela fez uma retirada completa do reto, com preservação da musculatura anal e realização de uma sutura entre o cólon e o ânus, sendo o que resta após a retirada do reto. Como essa sutura foi realizada numa área de radioterapia prévia, a possibilidade de complicações é relativamente alta e por isso se realizou uma ileostomia, procedimento de abertura no intestino delgado. Passado o risco de complicações, a ileostomia foi fechada, restabelecendo o trânsito intestinal e evacuação pela via natural”, explica a médica. Segundo ela, caso toda a musculatura anal tivesse sido retirada seria impossível religar o intestino ao ânus. “Aí, obrigatoriamente, ela evacuaria por um estoma (bolsinha na barriga), pelo resto da vida”, frisa.
A cirurgia é indicada para os casos de tumores localizados no reto inferior, mais próximo da região anal. Se o tumor estiver em uma parte mais alta, existe uma maior chance de se preservar parte do reto. “No caso da Preta, por ser um tumor do reto mais baixo, a opção é realizar radioterapia e quimioterapia previamente e depois a retirada completa do reto”, avalia a especialista.
A recuperação da cirurgia que é delicada exige, segundo Maristela Almeida, uma abordagem multidisciplinar para evitar complicações inerentes da cirurgia. Segundo ela, ter uma avaliação nutricional, uso de medicamentos, fisioterapia pélvica e suporte psicológico ajuda a melhorar muito os resultados.
A especialista detalha que o paciente pode ter uma boa qualidade de vida com ou sem o uso de um estoma definitivo. Ela relata que há casos de pacientes com estoma definitivo que conseguem praticar atividades físicas, viajar, trabalhar, casar e ter filhos, com boa qualidade de vida.
No caso da Preta, conseguindo manter a via normal de evacuação, a qualidade de vida é ótima, apesar de algumas alterações funcionais causadas pela falta do reto. “A retirada do reto pode aumentar o número de evacuações e pode dificultar segurar as fezes, mas isso pode ser controlado com a realização de uma boa dieta, uso de medicação e de fisioterapia do assoalho pélvico”, ressalta.
Câncer colorretal
A médica do Hospital Edmundo Vasconcelos detalha que os fatores de risco para o câncer colorretal são principalmente os hábitos de vida pouco saudáveis, como uma dieta pobre em fibras e rica em alimentos ultraprocessados, a falta de atividades físicas, o fumo e o excesso de bebidas alcoólicas. “Além disso, algumas doenças, como as poliposes e doenças inflamatórias intestinais (retocolite ulcerativa e Doença de Crohn), podem predispor ao câncer intestinal. Antecedentes familiares e genéticos também estão envolvidos no aparecimento da doença”, analisa.
Ela lembra que o câncer colorretal pode ser prevenido pela realização de colonoscopias, que deve ser realizada a partir de 45 anos, mesmo quando o paciente não tem nenhum sintoma intestinal e que deve ser obrigatoriamente realizada em pacientes com queixas de sangramento anal ou alteração do hábito intestinal. “Na presença de qualquer sinal de alarme como esses acima, o paciente deverá procurar um proctologista para avaliar e indicar os exames necessários”, finaliza.